ZIDANE ADIA APOSENTADORIA POR UMA SEMANA
No túnel de entrada, Zidane beija Roberto Carlos, aperta a mão de Cafu e puxa a fila dos franceses. Entra em campo, lê a mensagem em francês encomendada pela Fifa para a campanha contra o racismo e se perfila para os hinos nacionais. Toca a Marselhesa, e Zidane não canta, olha fixo. O jogo começa, e ele mostra que será o maestro francês, o melhor jogador da partida eleito pela Fifa.
Zidane pedala diante da marcação brasileira e lança para Henry, no primeiro de seus constantes impedimentos. Aos 7min, se repete a cena. O meia percebe que tem liberdade em campo, se aventura pela esquerda e pelo meio. Kaká tenta marcar, mas só pára o francês com falta. Ele usa o corpo para proteger a bola. Na frente de Cafu, usa as duas pernas para driblá-lo. Suas bolas alçadas na área são um perigo.
No último minuto do primeiro tempo, ele faz seu lance mais bonito: dribla dois brasileiros, puxa o contra-ataque lançando para Vieira, que é derrubado por Juan na frente da área.
Mas os lances que mostrariam sua maestria estariam por vir no segundo tempo. Aos 10min, dá um chapéu em seu amigo Ronaldo. No lance seguinte, novo chapéu na marcação rival. Aos 12min, faz a jogada mais importante. Cobra a falta em que alça a bola na área para Henry desviar para o gol.
É hora de se soltar na comemoração. Zidane corre, braços abertos, sorriso largo, para o abraço em Henry.
Nos minutos finais, o Brasil pressiona. A França recua, e Zidane ajuda na marcação. Com classe, o meio-campista rouba a bola e gasta o tempo. Sofre falta e esfria a seleção brasileira. E oito anos depois, repete a história. Eleito o melhor em campo pela Fifa, Zidane é de novo o carrasco do Brasil na Copa do Mundo.
"Nós precisávamos de um grande jogo e merecemos tudo isso. Nós sabíamos que tínhamos de ser fortes fisicamente e assim fomos", comentou o jogador, de 34 anos, após a vitória.
"Lutamos muito e merecemos a vitória. Agora, tentaremos um lugar na final. Não queremos parar. Isso tudo é muito bonito e queremos ir além", completou.
Assim como na final da Copa de 1998, quando anotou dois gols, Zidane foi o mentor da seleção francesa na vitória sobre o Brasil. Ele foi o jogador que mais recebeu bolas pela França e acertou 48 dos 53 passes que tentou, de acordo com levantamento do "Datafolha".
Zidane ainda foi perfeito nos dribles, acertando as cinco tentativas, e ainda foi o jogador que mais sofreu faltas do time francês, com quatro. No total, foram sete lançamentos, sendo dois certos, além de seis cruzamentos (três certos, três errados). O meia pecou nas finalizações, com duas, todas erradas, mas ainda ajudou na defesa e conseguiu oito desarmes, todos completos.
Por tudo isso, Zidane deixa o campo ovacionado pela torcida. O craque bate palmas e retribui o carinho do público. O jogador ainda encontra tempo para consolar os brasileiros Cicinho e Robinho, companheiros de Real Madrid.
Agora ele se prepara para a última semana da carreira. Quarta-feira, em Munique, tem jogo contra Portugal pelas semifinais. E Zidane quer mais. Ele quer se despedir no domingo, na final da Copa, em Berlim.
PAPIN
Para muitos especialistas em futebol, as estrelas atuais no ataque da seleção, Henry e Trezeguet, nem chegam aos pés de Jean Pierre Papin. Exagero? Pode ser, mas que ninguém duvide que se trata de um grande jogador, que teve brilhante trajetória em clubes, mas não conquistou nada por seu país.
Centroavante técnico, habilidoso e matador, Papin passou por sete equipes durante a carreira. Nas duas primeiras não conseguiu grande projeção. Conquistou o primeiro título somente em 1986, a Copa da Bélgica, pelo Bruges.
As portas, então, se abriram para uma série de conquistas. Papin venceu quatro vezes o Campeonato Francês. Foi o artilheiro da competição em três anos seguidos. Conquistou ainda o bicampeonato italiano pelo Milan (1993 e 1994). Em 1991, o atacante recebeu a "Bola de Ouro" como melhor jogador da Europa, prêmio concedido anualmente pela revista "France Football".
Papin, porém, não conseguiu os mesmos resultados com a seleção. Aos 23 anos, o atacante foi convocado para a Copa do Mundo de 1986, no México. Começou na equipe titular e marcou o único gol da vitória francesa na estréia contra o Canadá.
Como passou em branco o restante da primeira fase, foi para o banco de reservas a partir das oitavas-de-final. Retornou apenas na decisão do terceiro lugar, contra a Bélgica. A equipe venceu por 4 a 2, e Papin deixou a sua marca.
RONALDO
O recorde de gols da história das Copas. Atingir esse feito foi um grande prêmio de consolação para Ronaldo numa Copa em que começou muito gordo e vaiado, acordou e fez três gols para superar a marca do alemão Gerd müller (Ronaldo chegou a 15 gols, contra 14 do recordista anterior), mas novamente fracassou com a seleção numa partida diante da França de seu amigo Zidane. Se, em 1998, foi vice-campeão, desta vez Ronaldo saiu nas quartas-de-final.
A ressurreição na partida contra o Japão, quando fez dois gols e estava um pouco mais magro que no início da preparação (embora ainda acima do peso, com 90 kg para 1,83 m de altura), o gol do recorde diante de Gana e algumas tentativas esforçadas no final desesperado do jogo contra a França fizeram com que Ronaldo escapasse do naufrágio de reputação sofrido por Ronaldinho, Cafu e Roberto Carlos.
Fica o suspense se Ronaldo terá condições para disputar sua quinta Copa em 2010, quando terá quase 34 anos. Pelo sua condição física, que já foi bem alarmante em 2006, antes mesmo dos 30 anos completos, parece improvável. Mesmo assim, lugar na história ele já garantiu.
Além do recorde de gols em Copas, Ronaldo é bicampeão (1994 e 2002).
O retrospecto de Ronaldo no futebol se confunde com a história recente das Copas. Em 1994, o menino Bento Ribeiro, então com 17 anos, foi levado por Carlos Alberto Parreira para a Copa. Não teve chances de jogar, mas já começou a se habituar com o ambiente de seleção.
Quatro anos mais tarde, Ronaldo chegou à Copa da França como principal estrela do futebol mundial, vindo de dois títulos consecutivos de melhor do mundo da Fifa. Todos os olhos estavam voltados para o então jogador da Inter de Milão.
A estrela do time de Mário Zagallo fez um bom Mundial, mas o desfecho foi quase trágico. Horas antes da final contra os franceses, Ronaldo sofreu uma convulsão na concentração, em circunstâncias misteriosas até hoje. O atacante acabou não relacionado para a partida, mas chegou ao estádio em cima da hora e forçou sua escalação.
Na derrota para a França, Ronaldo não jogou bem. O sonho de brilhar em um Mundial, desta forma, ficava adiado para a Copa de 2002, na Coréia do Sul e Japão.
Mas nesse meio tempo, Ronaldo enfrentou o problema mais delicado de sApós o Mundial, o jogador continuou a defender a França. Uma talentosa geração, formada também por Blanc, Deschamps, Ginola e Cantona, foi desmantelada, já que o time não conseguiu vaga para as duas Copas seguintes (1990 e 1994). ua carreira, talvez de sua vida. O atacante sofreu duas lesões gravíssimas no joelho direito, ficando ausente dos gramados por praticamente dois anos.
Porém, numa reviravolta quase cinematográfica, Ronaldo conseguiu se recuperar para jogar a Copa de 2002, conseguindo o melhor desempenho de sua carreira. Marcou oito gols, dois deles na decisão contra a Alemanha, e ajudou o Brasil a conquistar o pentacampeonato.
O sucesso de Ronaldo no futebol foi precoce. Depois de ver as portas se fecharem no São Paulo e no Botafogo-RJ, que não aceitaram pagar R$ 25 mil por 50% de seu passe, pertencente a Alexandre Martins e Reinaldo Pitta, em 1993 o franzino Ronaldo desembarcou no Cruzeiro. O responsável por sua chegada foi Jairzinho, o furacão da Copa de 70, que conseguiu convencer os dirigentes da equipe mineira a pagar US$ 25 mil pelo garoto.
O indiscutível talento precoce logo chamou a atenção do treinador Carlos Alberto Silva, que o colocou entre os reservas da equipe. Em uma excursão do Cruzeiro à Europa, o treinador decidiu colocar Ronaldo, então com 16 anos, em algumas partidas. De volta ao Brasil, foi sendo utilizado aos poucos até conquistar definitivamente uma posição no ataque. Em 1993, ao disputar a Supercopa dos Campeões, o atacante foi o artilheiro com oito gols.
Ronaldo conquistou então uma merecida vaga na seleção que disputaria a Copa dos Estados Unidos. Por causa da presença do zagueiro Ronaldão, o atacante passou a ser conhecido no Brasil como Ronaldinho. O Cruzeiro acabou decidindo vendê-lo ao PSV Eindhoven por US$ 6 milhões. Na Europa, o goleador foi submetido a um tratamento físico para ganhar massa muscular.
Em 56 partidas, marcou 44 gols, ajudando o time a conquistar a Copa da Holanda, em 1996, e tornando-se o ídolo maior da equipe. Em março do mesmo ano, operou o joelho direito para retirar fragmentos de cartilagem que haviam aderido ao tendão da patela.
Na Olimpíada de Atlanta, foi destaque da seleção, com cinco gols. Mas, como o restante da equipe, ficou marcado pela perda da medalha de ouro após a eliminação diante da Nigéria.
O seu talento, no entanto, ganhava admiradores por todo o mundo, e, ainda em 1996, Ronaldo foi vendido ao Barcelona, da Espanha, por US$ 20 milhões. Na equipe catalã, o artilheiro ganhou a idolatria dos torcedores, exibindo uma velocidade cada vez maior e impressionando as platéias com seus dribles e gols fantásticos.
A Fifa acabou elegendo Ronaldo o melhor jogador do mundo em 1996. No ano seguinte, o atacante deixou-se levar por uma oferta milionária da Inter de Milão. O negócio de US$ 32 milhões foi realizado, e o atacante, chamado então pela imprensa italiana de "Fenômeno", não demorou a quebrar recordes. Marcou 25 gols, tornando-se o estrangeiro com a melhor artilharia em uma primeira temporada na Itália.
Depois dos anos se recuperando das cirurgias no joelho e da conquista da Copa do Mundo, Ronaldo alegou falta de compatibilidade com o então técnico Héctor Cúper para deixar a Inter. Numa das mais polêmicas transferências da história moderna do futebol, o brasileiro foi parar no Real Madrid.
De volta ao futebol espanhol, Ronaldo manteve a média goleadora de toda sua carreira. Mas os títulos secaram. Depois de vencer a Liga da Espanha em sua primeira temporada, o brasileiro não ganhou mais nada com o Real. No clube, freqüentemente enfrenta cobranças, que variam sobre sua forma técnica ou seu estado físico.